mardi 15 juin 2010

Lembrei.

Tinha uma loja na esquina da minha rua de esportes, mas seu forte era ciclismo. Muito conhecida e antiga no mercado, não me lembro o nome porque pouco me importava isso.
Eu adorava parar na vitrine com meu pai e ficar olhando as bicicletas, os capacetes tão coloridos. Sabia tanto da loja que até as novas bicicletas que chegavam eu reconhecia. Nunca entrei na loja, mas via sempre um pai grisalho saindo da loja com uma bicicleta no carro para o filho contente que vinha logo atrás.
Deve ter sido por isso que eu me alegrei tanto quando montei a minha primeira bicicleta. Muito tempo depois, mas consegui.
Antes disso eu me satisfazia com a bicicleta da Isabela, filha da Sula. Uma pequena bicicleta monark rosa de rodinhas que me fez dar os primeiros pedalos, as primeiras e inesquecíveis quedas e atropelos. Sim, é verdade que eu passei de tão feliz a bicicleta em cima do pé da vizinha que me deu um baita grito, pedi tantas desculpas, mas foi inútil. Essa foi a primeira vez que eu entendi que nem sempre pedir desculpa como minha mãe ensinou, seria suficiente.
Era uma rua pequena e estreita, com algumas madeiras que sustentavam os varais de roupa das mulheres negras que enquanto lavavam suas peças íntimas na calçada de casa, ouviam os pagodes que meu amado pai também ouvia enquanto se embriagava de esquecimento.
Tínhamos que driblar os varais, os bebês da rua, os vizinhos... enfim, era uma loucura aprender a andar de bicicleta alí. Lembro bem do meu tio Chico segurando o bagageiro da bicicleta enquanto a Isabela também aprendia, ele sempre mexia naquelas rodinhas de plástico e eu nunca entendia o porquê. Bem, ela conseguiu finalmente! Mas e eu? Tive meus incentivos nos treinos de domingo, enquanto o Senna arrasava, eu segurava firme no guidon, dava minhas primeiras pedaladas sem rodinha, sem grandes aplausos, sem nada que fosse meu, sem que tivesse de brigar e pedir muito para "andar só um pouquinho".
Já um pouco mais tarde em férias na casa da avó, num dia de muito sol, meu primo me chama e pergunta se eu quero comprar uma bicicleta por não muito mais que 17R$. Fui à frente da casa para ver a tal da bicicleta e a cara do sujeito que queria vender. Que menino feio! Ok! Mas isso não convém muito, tanto que minha pseudo-infalível beleza não cooperou muito para sair por menos que dezessete.
Não sei mesmo porque uma criança escolheria exatamente o número 17, mas tudo bem! Entrei, liguei para minha mãe que permitiu e minha avó me autorizou utilizar os poucos reais que eu ganhei para passar as férias inteiras, acho que foi a primeira vez que ganhei mais que 10 reais.
A bicicleta estava enferrujada, a pintura original era verde musgo, um nojo, cheia de adesivos rasgados... enfim, nem a cela era digna de uma bunda. Até meus primos jogaram a cela fora e ficaram andando na bicicleta sem a cela, um perigo, não acha?
Meu avó tinha uma oficina e o marido da minha tia uma kombi de lotação, casei tudo e levamos a bicicleta para a pintura. Ficou linda! Pintura prateada de carro! Compramos os adesivos, todas as peças de nomes estranhos (bacia, rolamento, coroa, punho). Ah! Esse punho era tão fofo, gostosinho de apertar! Ganhei uma cela original da Caloi do meu tio, foi um presente lindo. Ao menos agora eu não precisava arriscar minha bunda.
Os pneus, o garfo e os raios foram as únicas coisas que restaram além do quadro. Preservamos porque ainda estavam bons. O garfo era cromado, mas os raios... Bem, passei uma manhã inteirinha com uma bacia de água e lã de aço esfregando raio por raio até sair todo ferrugem. Ficou melhor sim, mas não perfeito do jeito que sempre busco fazer.
Foi um plim! Juntou tudo, todo mundo me ajudou, a família toda quase, e fiquei eu e minha cross, finalmente, nos perigos de uma rua larga, esburacada, com ladeira, primos sedentos por adrenalina e algumas marcas boas na memória.

(de tanto falar eu acredito no poder. para você.)

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